O líder do partido de ultradireita Reunião Nacional (RN), Jordan Bardella, convocou os franceses para protestar no próximo fim de semana contra a decisão que tornou Marine Le Pen inelegível, após ela ser considerada culpada de desviar fundos da União Europeia. A política está proibida de concorrer a cargos públicos por cinco anos.
A decisão de segunda-feira (31) foi um grande revés para Le Pen, que vinha liderando as pesquisas de opinião para a eleição presidencial de 2027.
“Os franceses deveriam estar indignados, e eu digo a eles: Fiquem indignados!,” disse Bardella à rádio Europe 1 e à TV CNews. “Nós iremos para as ruas neste fim de semana.” O partido anunciou um comício em Paris no próximo domingo (6).
Na base eleitoral de Le Pen em Henin-Beaumont, cidade no norte da França, funcionários da RN estavam distribuindo panfletos que diziam “Vamos salvar a democracia. Apoiem Le Pen!”
Enquanto isso, a sessão semanal de perguntas parlamentares ao governo se transformou em um debate acalorado sobre a decisão judicial, com a RN repetindo acusações de viés político.
Mais cedo, Le Pen disse aos parlamentares da RN que considerava a decisão uma “bomba nuclear” lançada pela “elite política” contra ela.
Em um sinal de alguma inquietação sobre como reagir ao que o jornal Le Figaro chamou de “terremoto democrático”, o primeiro-ministro de centro-direita, François Bayrou, disse ao Parlamento que apoiava a decisão —mas também que tinha dúvidas sobre a proibição eleitoral de Le Pen ser imediata.
“Como questão de direito, qualquer decisão criminal com consequências sérias deve ser passível de recurso,” disse ele, acrescentando que estava falando como cidadão e não como primeiro-ministro.
Bayrou afirmou que os parlamentares deveriam alterar a lei que permite aos juízes impor uma proibição imediata, caso discordem disso. O parlamentar aliado da RN, Eric Ciotti, disse que tomaria essa medida.
O presidente Emmanuel Macron não fez nenhum comentário público sobre o caso até esta terça.
A juíza na audiência do tribunal de segunda, Benedicte de Perthuis, disse que Le Pen estava no centro de um esquema para desviar mais de € 4 milhões (cerca de R$ 24 milhões) de fundos da União Europeia. A falta de arrependimento da ultradireitista e dos outros réus foi um dos motivos que levaram o tribunal a proibi-los de concorrer a cargos com efeito imediato, disse a juíza.
Le Pen também recebeu uma sentença de quatro anos de prisão —metade da pena a ser cumprida em regime domiciliar—, além de multa de € 100 mil (R$ 615 mil). Mas essas medidas não serão aplicadas até que seus recursos se esgotem. Isso pode levar meses ou até anos na França.
Os réus respondem à acusação de usar ilegalmente fundos da UE para pagar os funcionários do partido em seu país —incluindo uma das irmãs de Le Pen e outras pessoas próximas a ela— em vez dos assessores parlamentares da UE. Todos os acusados negaram qualquer irregularidade e disseram que o dinheiro foi usado de forma legítima.
Bardella pode se tornar o candidato de fato da RN para a eleição de 2027, mas Le Pen deixou claro que ainda não estava pronta para passar o bastão para ele. “Não vou me deixar ser eliminada assim”, disse ela na segunda. Bardella a apoiou.
Pesquisas na França mostram que 57% dos entrevistados concordaram com a decisão judicial contra Le Pen, enquanto 42% a consideraram politicamente tendenciosa.