A China subiu o tom contra Taiwan nesta terça-feira (1º), quando realizou novas manobras militares ao redor da ilha e chamou de parasita o presidente do território. Os exercícios ocorrem após a visita do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, à Ásia, onde repetidamente criticou Pequim.
O Exército da China mobilizou navios, aeronaves e artilharia para bloquear as costas norte, sul e leste da ilha e “testar a coordenação das forças em combate”, disse o Comando do Leste em uma das várias publicações sobre a operação que fez no Weibo, espécie de versão chinesa da rede social X.
Entre as publicações há vídeos que mostram navios de guerra e caças chineses cercando Taiwan e uma barragem de mísseis disparando no céu antes de explodir em seus alvos.
Um deles é uma animação na qual o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, é retratado como um verme verde antes de aparecer sendo segurado por hashis sobre o território em chamas. “Parasita envenenando a ilha de Taiwan. Parasita esvaziando a ilha. Parasita cortejando a destruição final”, diz o vídeo.
O ministro da Defesa de Taiwan, Wellington Koo, disse que a retórica mostra o “caráter provocativo” de Pequim. Segundo a pasta, Taipé detectou 71 aviões e 21 navios de guerra ao redor da ilha nesta terça, incluindo um porta-aviões. De acordo com a agência de notícias Reuters, dois funcionários de alto escalão de Taiwan disseram que mais de dez navios militares chineses entraram na zona contígua do território, a menos de 44 quilômetros da costa.
O governo de Taiwan, que possui seu próprio Exército, mobilizou aviões e navios de guerra e ativou o sistema terrestre de mísseis de defesa —em maio do ano passado, três dias após a posse de Lai, as forças chinesas realizaram exercícios de mísseis com fogo real.
Desta vez, Taipé disse não ter detectado fogo, e a China tampouco nomeou a operação. O Global Times, propriedade do jornal Diário do Povo , do Partido Comunista Chinês, disse que o exercício não recebeu um nome de código para mostrar que essas manobras “se tornaram uma prática normal”.
Nos últimos anos, Pequim recorreu diversas vezes ao envio de suas forças para o entorno de Taiwan, que tem governo, moeda e militares próprios mesmo com pouco reconhecimento diplomático oficial —apenas 12 países, entre eles Guatemala, Paraguai e Vaticano, reconhecem oficialmente a nação.
Desde a posse do presidente Lai, há quase um ano, a tensão entre os territórios, separados pelos 130 quilômetros de largura do estreito de Taiwan, aumentou. O presidente mantém uma postura mais firme a favor da soberania de Taiwan que sua antecessora e colega de partido, Tsai Ing-wen.
Nesta terça, os exercícios foram seguidos de trocas de ameaças. A porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan da China, Zhu Fenglian, afirmou que “buscar a ‘independência de Taiwan’ é empurrar o povo taiwanês para uma perigosa situação de guerra”.
Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou que a reunificação é “uma tendência imparável”. “A persistência obstinada das autoridades [de Taiwan] em sua postura independentista está condenada ao fracasso”, afirmou.
O porta-voz do Ministério de Defesa de Taiwan, Sun Li-fang, disse, por sua vez, que o Exército elevou seu nível de prontidão para garantir que a China “não transforme exercícios em combate”.
A disputa entre Pequim e Taipé remonta a 1949, quando as tropas nacionalistas de Chiang Kai-shek perderam a guerra civil para os comunistas liderados por Mao Tse-Tung e fugiram para Taiwan. Até hoje, para Pequim, a China continental e Taiwan são duas partes de uma só China —questão considerada uma linha vermelha para o país comunista.
As últimas ações podem ser uma forma de testar os EUA, principal fornecedor de armamento para a ilha, sob a gestão do presidente Donald Trump, um crítico do apoio militar de Washington à Ucrânia na guerra contra a Rússia, por exemplo.
Os EUA, porém, afirmaram que estão monitorando de perto a atividade militar e continuarão apoiando a ilha, segundo um porta-voz do Departamento de Estado. “A China mostrou que não é um ator responsável e não vê problema em colocar a segurança e a prosperidade da região em risco”, afirmou.
A União Europeia, por sua vez, pediu que todas as partes evitem ações que possam “aumentar ainda mais as tensões”. “A paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são de importância estratégica para a segurança e a prosperidade regional e global”, afirmou o bloco.