Uma juíza de imigração dos Estados Unidos determinou nesta sexta-feira (11) que Mahmoud Khalil, ex-aluno da Universidade Columbia de origem palestina que participou de protestos contra Israel e a guerra na Faixa de Gaza, pode ser deportado do país apesar de ser portador de um green card e casado com uma cidadã americana.

Khalil foi preso por autoridades imigratórias americanas, e seu caso se tornou um dos mais emblemáticos da repressão a manifestações pró-Palestina nos EUA, intensificada sob o governo de Donald Trump.

A juíza de imigração do estado da Louisiana, onde Khalil está preso, concordou com o argumento do governo Trump de que, embora não seja acusado de cometer crimes, ele é um risco à segurança nacional dos EUA em razão de suas opiniões sobre Israel.

Ao chegar a essa decisão, a juíza Jamee Comans cita um memorando do secretário de Estado, Marco Rubio, no qual o chefe da diplomacia americana diz que as opiniões de Khalil são contrárias aos “interesses de política externa” dos EUA —e que isso seria razão suficiente para deportá-lo.

Khalil, 30, foi preso no dia 8 de março por agentes de imigração na residência estudantil onde morava, em Nova York, e enviado no mesmo dia para um centro de detenção no estado da Louisiana, a milhares de quilômetros de distância da cidade onde mora e de seus advogados e esposa, que está grávida.

Segundo a argumentação do governo Trump na Justiça, corroborada agora pela juíza Comans, imigrantes que participem de manifestações consideradas “antissemitas e pró-Hamas“, grupo terrorista em guerra contra Israel, podem ser removidos dos EUA mesmo que tenham o status de residentes permanentes.

Para Comans, o governo apresentou “provas claras e convincentes” de que Khalil ameaça a segurança nacional americana e atua de forma contrária aos interesses dos EUA.

Depois da decisão, Khalil pediu permissão para se dirigir à juíza. “A senhora disse que não há nada mais importante do que o devido processo legal e o equilíbrio na Justiça. Hoje, nenhum desses princípios esteve presente nesta corte.”

“E foi por isso que o governo Trump me mandou aqui”, prosseguiu Khalil, “a milhares de quilômetros de distância da minha família. Espero apenas que a urgência com a qual fui julgado seja estendida às centenas de pessoas [neste centro de detenção] que estão há meses sem uma audiência”.

Os advogados de Khalil devem recorrer da decisão, e um juiz no estado de Nova Jersey já havia emitido uma ordem proibindo o governo de expulsar o estudante enquanto o caso não for decidido pela Justiça.

A defesa de Khalil chamou o processo de farsa. “Trata-se de uma flagrante violação de seu direito a um julgamento equilibrado, e um aparelhamento da lei de imigração para eliminar opiniões contrárias às do governo. Se Mahmoud pode ser tratado assim simplesmente por falar em defesa dos palestinos, tudo pode acontecer com qualquer um que discorde do governo Trump”, afirmou Marc van der Hout, um dos advogados.

O palestino criado na Síria atuou como porta-voz dos manifestantes que ocuparam parte do campus da Universidade Columbia em 2024 contra as ações de Israel em Gaza e as mortes de civis em bombardeios israelenses. Khalil não foi acusado de invadir prédios da instituição nem foi preso na época, quando a polícia removeu os manifestantes à força do campus.

Entretanto, como atuava como porta-voz do grupo, ele se tornou um dos principais alvos de apoiadores de Israel nas redes sociais e de figuras próximas a Trump, que o associaram com antissemitismo e o atacaram como um simpatizante do grupo terrorista Hamas. A Casa Branca reforça essa acusação, mas ainda não apresentou provas.