Fuzileiros navais mobilizados para conter a onda de protestos na Califórnia foram instruídos nesta quarta-feira (11) a se preparar para entrar em Los Angeles, enquanto manifestações contra a política migratória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se espalham pelo país.
Os agentes, que estão treinando em Seal Beach, logo ao sul do Condado de Los Angeles, são parte dos milhares de militares mobilizados no estado pelo republicano na semana passada, a despeito das objeções do governador Gavin Newsom. Ao todo, o governo federal acionou 700 fuzileiros navais e 4.000 soldados da Guarda Nacional, desencadeando um debate nacional sobre o uso de militares em solo americano.
Newsom processou o governo na tentativa de bloquear o envio de tropas, mas até agora o esforço não foi suficiente. Segundo a política do Departamento de Defesa, os militares podem deter temporariamente cidadãos, sem prendê-los, e então entregá-los às autoridades locais o mais rápido possível.
A repressão, no entanto, tampouco parece ter surtido o efeito esperado —os protestos contra as detenções de imigrantes, uma promessa de campanha de Trump, eclodiram na sexta (6) e estão se alastrando para outras cidades dos EUA. Centenas de manifestações estão planejadas para sábado (14).
O major-general do Exército americano Scott Sherman, que comanda as tropas, afirmou a jornalistas nesta quarta que os fuzileiros navais não carregarão munição real em suas armas. Segundo o Pentágono, além de proteger edifícios e pessoal do governo, as tropas vão garantir a segurança de funcionários do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas, na sigla em inglês) durante as operações.
Na terça (10), por exemplo, o ICE publicou fotos de soldados da Guarda Nacional com armas nas mãos enquanto agentes algemavam supostos migrantes em situação irregular que estavam apoiados na lateral de um carro em Los Angeles.
Apesar disso, o procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, disse à agência de notícias Reuters que a ação potencialmente viola uma lei de 1878 que proíbe militares dos EUA, incluindo os da Guarda Nacional, de participar da aplicação da lei civil.
Embora as manifestações sejam em grande parte pacíficas e limitadas a cerca de cinco ruas do centro de Los Angeles, a prefeita da cidade, Karen Bass, impôs um toque de recolher em uma área de 2,5 quilômetros quadrados do centro da cidade a partir da noite de terça, depois que alguns estabelecimentos comerciais foram saqueados. Segundo o Departamento de Polícia de Los Angeles, 225 pessoas foram presas naquele dia, incluindo 203 por não se dispersarem, e outras 17 por violarem o toque de recolher.
Também na terça, manifestantes marcharam em Nova York, Atlanta e Chicago gritando palavras de ordem contra o ICE e, em alguns momentos, entrando em confronto com as forças de segurança. Na véspera, a polícia de Austin, no Texas, disparou gás lacrimogêneo e bolas de pimenta contra manifestantes.
Nesta quarta, o governador do estado, o republicano Greg Abbott, deve se tornar o primeiro governador a mobilizar a Guarda Nacional antes de protestos planejados em San Antonio.
As manifestações devem se expandir no sábado, quando mais de 1.800 manifestações estão marcadas para acontecer em todo o país. Nesse dia, tanques e outros veículos blindados percorrerão as ruas de Washington em um desfile militar marcando o 250º aniversário do Exército dos EUA, coincidindo com o aniversário de 79 anos de Trump.
Também nesta quarta, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, e líderes de mais de 30 cidades menores da Califórnia pediram o fim das batidas policiais que têm impactado o estado.
“Quando vocês invadem lojas e locais de trabalho, quando vocês separam pais e filhos e quando vocês conduzem blindados pelas nossas ruas, vocês não estão tentando manter ninguém seguro, mas sim tentando causar medo e pânico”, disse Bass em entrevista coletiva.
Os comentários foram feitos poucas horas depois de o secretário de Defesa, Pete Hegseth, dizer em uma audiência no Senado que tropas poderiam ser enviadas para outras cidades “se houver tumultos em locais onde os policiais recebem ameaças”.