Em meio a ofensivas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a presença de estudantes estrangeiros em Harvard, o reitor da universidade, Alan Garber saudou a comunidade internacional ao discursar na cerimônia de formatura da instituição, nesta quinta-feira (29).
“Bem-vindos, membros da turma de 2025 da vizinhança, de todo o país e de todo o mundo”, afirmou o reitor ao iniciar seu discurso. “De todo o mundo, exatamente como deve ser”, repetiu, antes de ser ovacionado por estudantes e professores.
Nos últimos dias, os ataques de Trump contra Harvard, uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas do mundo, escalaram para uma tentativa de proibir a matrícula de alunos internacionais, que compõem um quarto do corpo estudantil da universidade.
O encerramento do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio, anunciado na quinta-feira passada (22), durou pouco —no dia seguinte, Harvard processou o governo no Tribunal Federal de Boston e uma juíza bloqueou a medida por 15 dias.
Mesmo assim, a ofensiva assustou a comunidade acadêmica —a medida impediria Harvard de matricular novos estudantes internacionais e exigiria que os existentes se transferissem para outras universidades para não perder seu status legal. A instituição matriculou quase 6.800 estudantes internacionais em seu atual ano letivo, o equivalente a 27% do total de matrículas, segundo estatísticas da universidade.
Diante do bloqueio, o governo parece ter adotado uma nova estratégia.
Nesta quarta (29), o Departamento de Segurança Interna americano notificou Harvard de sua intenção de proibir a matrícula de estudantes não americanos e deu à universidade 30 dias para responder ao aviso. Trata-se de um recuo do banimento imediato para tentar chegar ao mesmo resultado em um processo mais longo.
A notificação ocorreu um dia antes de uma audiência com a juíza Allison Burroughs, que bloqueou a medida na semana passada. Citando o potencial de danos a Harvard e seus estudantes, ela afirmou, durante a sessão, que planeja emitir uma ampla liminar preservando o status quo enquanto o processo administrativo se desenrola.
Ao contestar a proibição na semana passada, Harvard argumentou que a revogação violava seus direitos de liberdade de expressão e devido processo legal e contradizia os regulamentos do próprio Departamento de Segurança Interna, que exige a concessão de pelo menos 30 dias para contestar alegações.
A principal justificativa para a campanha do governo contra Harvard e outras universidades renomadas dos EUA costuma ser o mesmo —a de que essas instituições permitiram antissemitismo no protestos contra a guerra na Faixa de Gaza que tomaram os campi no ano passado.
As ofensivas contra Harvard, no entanto, estão mais intensas, uma vez que e universidade se recusou a cumprir as exigências do republicano, que incluem a expulsão de alunos que participaram de protestos e intervenções em programas que estudam o Oriente Médio.
Columbia, outra instituição entre as melhores do mundo, concordou com essas condições, mas, desde então, viu a pressão do governo apenas subir. A Casa Branca agora fala em intervenção direta na universidade, diz a imprensa americana.
“Continuamos a rejeitar o padrão repetido de Harvard de colocar seus estudantes em perigo e espalhar o ódio americano —ela deve mudar seus métodos para ser elegível a receber benefícios generosos do povo”, disse nesta quinta a Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, em um comunicado.
Na semana passada, ela justificou a medida acusando a universidade de “fomentar a violência, o antissemitismo e coordenar com o Partido Comunista Chinês”, sem apresentar evidências.
Os advogados da universidade sediada em Cambridge, Massachusetts, argumentaram que a ação fazia parte de um “ataque sem precedentes e retaliatório à liberdade acadêmica” da universidade, que está movendo outra ação judicial contestando a decisão do governo de encerrar quase US$ 3 bilhões em financiamento federal para pesquisa.
Especialistas apontam que a cruzada de Trump contra as universidades seria motivada, principalmente, pelo desdém que ele e seus apoiadores alimentam contra essas instituições —postura que compõe a cartilha de líderes autoritários em diversas partes do mundo.